terça-feira, 15 de março de 2022

Quem vai reparar o irreparável?

 O juiz Ricardo Lewandowski anulou a sentença de pouco menos de 04 anos cominada às condutas de Thiago Ferrugem no processo conhecido como "Chequinho"...

Para quem já esqueceu, este processo tratou do uso (indevido) de recursos de proteção social para fins eleitorais ilícitos (captação de votos pela recompensa pecuniária)...

São vários os condenados, e as penas variam de acordo com a responsabilidade atribuída a cada um...

Pois bem, na época, este escriba do Peido News atuava na redação do extinto Planície Lamacenta, e já diagnosticava os perigos e excessos da nau da insensata "devassa judicial", cujas velas eram sopradas pela farsa-jato...

Típico dos momentos de "Terror", vem a calmaria da retratação culpada, e recheada do receio de revanche...

Maximilien de Robespierre que o diga...


O fato é que daquela intervenção indevida dos aparatos estatais de persecução, todos ratificados pelas decisões do então onipresente, onipotente, mas nem tão onisciente Judiciário, sobrou para a população de Campos dos Goytacazes um governo eleito de forma dirigida e, digamos, indigna, que por sua vez, executou uma administração correspondentemente ilegítima...


Apoiado descaradamente pela mídia local, ela mesma portadora dos Autos de Fé do Moralismo Cego, o (des)governo Rafael Diniz deixou a cidade destroçada...


Tudo bem, tudo bem, a desgraça do povo campista seria do jogo democrático (escolhas ruins, resultados piores) caso a eleição não houvesse sido conspurcada pelo consórcio mídia-elites econômicas-judiciário, assim como no plano nacional...


Já disse alguém que Vargas disse que Campos é o espelho do Brasil...pois é, triste maldição, né?


Agora, anuladas a sentença do Thiago Ferrugem por completo e insanável vício, haja vista a contaminação e posterior inépcia das provas principais do processo (os arquivos retirados do computador da secretaria onde o programa se executava), certamente, todos os demais condenados se aproveitarão deste incidente processual de natureza constitucional (validade da prova, cadeia de custódia, etc).


Sim, eu poderia dizer: "eu avisei"...


Eu poderia desagradar pessoas que eu tenho certeza agiram de boa-fé, ou acreditando que eram portadoras de um tipo de dever cívico contra aquilo que entendiam por mal irreparável, neste caso, a dinastia política de um determinado grupo e seus métodos políticos...


Eu poderia dizer o que sempre disse, que a existência de um ramo (especial?) da justiça para tutelar as eleições é uma aberração injustificável em estados democráticos de direito...


Eu poderia dizer que só as mais frágeis sociedades recorrem às tais instâncias judicantes, sendo certo que em democracias maduras, é papel dos partidos e eleitores regularem e fiscalizarem os atos próprios do jogo eleitoral, com reserva última e excepcionais para resolução de conflitos por algum poder jurisdicional...


Mas tudo que eu disser ainda vai ser pouco...


Não tenho dúvida que MP, Judiciário, etc, tenham cumprido seus papéis, e não duvido da lisura e da retidão de policiais, promotores e juízes...

Por outro lado, não posso deixar de dizer que foram ações tristes, ingênuas e manipuladas por interesses escusos, que alimentaram crenças, que por sua vez substituíram o dever de ofício da observância dos limites dos poderes os quais representavam, e que em razão derradeira, somos nós, o poder originário, o povo que concedemos e delegamos, seja nos cargos eleitorais, sejam nas carreiras de Estado...


Causaram um mal irreparável ao povo, em nome desse mesmo povo...


Não vou me referir aqui aos réus e condenados, pois cada qual que o faça no âmbito de seu desejo, sua resiliência ou ressentimento...


Vou falar da História que não pode ser resgatada, das eleições que não podem ser repetidas, dos resultados drásticos que elas nos trouxeram, isto é, a pior administração recente na vida da população da planície lamacenta...

Quem vai reparar o irreparável?

Será que esse pessoal que carregou as tochas desta pequena Inquisição pedirão desculpas?

Será que as pocilgas editoriais da conhecida mídia que vende o verbo pela verba pelas ruas da cidade recorrerá a alguma auto crítica, como sempre exige do PT e seus aliados?


Aguardemos...




 

quinta-feira, 10 de março de 2022

Nossa água não mata sede...mata quem a bebe!!!!!!

O cinema, na minha opinião, tem o poder de elevar certas narrativas biográficas a um patamar de reflexão (algumas vezes em caráter coletivo) que nenhuma outra forma de manifestação artística alcança...

Vejam, esta é só minha opinião...

Tem gente que acha que este poder é da música, das artes visuais (pintura, escultura, fotografia, etc.), teatro, dança...

Eu prefiro o cinema...


Neste diapasão, dois filmes me marcaram violentamente, dentre tantos outros...

Erin Brockovich...e Dark Waters, o primeiro protagonizado por Julia Roberts, e o segundo, Mark Ruffalo...


Tratam do mesmo tema: a sistemática e criminosa ação de grandes grupos empresariais na contaminação do abastecimento de água de enormes contingentes populacionais com substâncias capazes de causar danos mortais, e em outros casos, irreparáveis aos sobreviventes...


A PG & E (sigla para Pacific Gas and Eletric Company) e a Du Pont foram as empresas desmascaradas pela ação implacável dos heróis retratados nos filmes, que como cabe a um bom enredo hollywoodiano sofrem antes com a descrença de todos, abalos familiares pela persistência que chega às raias da obsessão, e claro e principalmente, com os efeitos de desafiarem o enorme poder econômico destas megacorporações, suas ramificações na mídia e em governos!


No caso da PG&E, a substância era o cromo hexavalente, um tipo de insumo usado para evitar a corrosão das peças da usina geradora de energia pelo contato constante com a água de resfriamento e outros processos...


O cromo hexavalente era jogado no lençol freático quando a água residual dos processos era acumulada sem qualquer proteção em enormes tanques, que por óbvio, infiltravam no subsolo...


Já no caso da Du Pont, a substância empregada era o Ácido Perfluoroocatnóico, ou C8, como era conhecido na indústria...


O filme com Mark Ruffalo, apesar das óbvias diferenças entre os personagens, segue o mesmo caminho...


Merecem ser vistos, por isso nada mais contarei sobre ele...


O fato é que estamos vivendo situação parecida há décadas em nossa cidade e em nossa região...


Em um país com históricos números de péssimo atendimento em saneamento básico (água potável e recolhimento e tratamento de resíduos) a questão da água sempre foi pautada por muita desinformação, manipulação e crime!


Durante anos e anos, setores empresariais e agro empresariais captaram volumes enormes de água como insumo para suas atividades, sem qualquer pagamento, e depois, com pagamentos muito aquém do real custo do uso do recurso...


Ao mesmo tempo, as cidades dividiram o uso e consumo da água com a mesma lógica hierárquica de sempre: pobres com pouca água, e de baixa qualidade, e ricos com muita oferta e boa qualidade de água...apesar dos pobres pagarem proporcionalmente muito mais pelo produto...


Agora, nos parece que o problema afeta a todos, já que todos bebem água...envenenada...


Na cidade de Campos dos Goytacazes, e em tantas outras pelo país, as empresas de água seguem produzindo água com níveis preocupantes de substâncias tóxicas, que é oferecida todos os dias, como uma morte lenta e anunciada os cidadãos...


Faço referência ao texto do companheiro e Professor Marcos Pedlowski (aqui)

O mapa da água nos revela que não estamos em situação muito diferente dos vizinhos das plantas da PG&E ou da Du Pont...

Esta questão deveria trazer à tona um tipo de indignação coletiva desenfreada e extrema...

Imagine se alguém te disser que adiciona um pouco de veneno à sua comida todos os dias...

É o que empresas, agronegócio e empresas de captação e venda de água estão fazendo...


Como nos relatórios da PG&E, ou da Du Pont, os dados  do Mapa da Água estão aí para quem quiser ver...


Certamente alguém, contaminado pelos interesses econômicos (desculpem o trocadilho), lhes dirá que não tem jeito, como fazer para resolver um problema sem onerar este sistema?


Ora, ora, ora, senhores...


Se de fato houvesse presidentes, governadores, prefeitos, parlamentares, procuradores municipais, promotores, órgão de fiscalização, entidades de classe, enfim, se houvesse sociedade civil e entes públicos e estatais dispostos a enfrentar a questão, a solução é óbvia:


- Responsabilizar civil e criminalmente toda a cadeia produtiva e econômica vinculada ao uso de água e despejo de rejeitos tóxicos no ambiente, como agro negócio, empresas de fertilizantes e agrotóxicos, empresas de saneamento, gerando valores indenizatórios e tributações específicas para arcar com os elevadíssimos custos do tratamento de pessoas envenenadas e para prevenção e correção dos níveis de contaminações futuras!!!!!


Não enxergo ninguém, seja na direita ou na esquerda, seja o Prefeito Wladimir Garotinho, sejam seus desafetos na Câmara de Vereadores, ou sua base de apoio que sejam capazes de enfrentar este problema com, digamos, o básico: coragem...


Não, não vejo...


Até porque, Vossas Excelências, ao contrário de boa parte de nós, mortais (e com nossa água, cada vez mais mortais), podem pagar água mineral...

Eu acho que ficaremos à espera de algum filme, algum herói improvável...algum tipo de ilusão dramática e trágica, como Chagas Freitas se banhando no Paraíba do Sul...




Quem faz a fama, deita na ca(â)ma(ra)? Um breve momento na Gaiola das Loucas!

  Algo vai muito mal quando juízes e policiais protagonizam política, e pior ainda, quando são políticos que os chamam para tal tarefa... Nã...