terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Carta aberta ao Prefeito de Campos dos Goytacazes!

 

(sobre transportes públicos, setor canavieiro e outras questões)

 

Vossa Excelência não me conhece, por certo, e nunca tivemos a oportunidade de um colóquio...

Por esta razão, penso que alguma formalidade é sempre necessária...

Assistindo de (um pouco) longe seu primeiro ano de administração fica uma sensação estranha...

Impossível não se encantar com o estilo do atual prefeito, remontando em memória afetiva os traços carismáticos de seus pais (principalmente do pai)...

Em metáfora futebolística (e rubro-negra), o atual prefeito é a estrela da companhia em matéria de comunicação dos seus atos de governo, enfrentamento da oposição (neste caso, tarefa facilitada pela indigência intelectual ou completa irrelevância deste campo político)...

No entanto, me perdoe Vossa Excelência, sua atuação parece isolada, para quem lembra do fiasco:

"pior ataque do mundo, pior ataque do mundo, para um pouquinho, descansa um pouquinho, Sávio, Romário, Edmundo" (uma brincadeira com uma propaganda da Gol Linhas Aéreas com as inúmeras escalas e conexões dos concorrentes, na época)...

Aqui a propaganda, se Vossa Excelência gostar destas arqueologias digitais:

Propaganda da Gol Linhas Aéreas/1995

Sim, Vossa Excelência parece perdido em meio a um bando de pernas-de-pau...Um Sávio que tinha como cabeças-de área (e de bagres) um tal de Fabinho e Charles Guerreiro (alguém se lembra deles? pois é...)

Eu não quero crer, como dizem as más línguas, que o senhor está capturado por alguns setores "sanguessugas" e pelo que os representam em seu governo, deixando Vossa Excelência incapaz de dar ordenamento ("colocar a bola na relva") à administração pública por conta de inúmeros acordos e compromissos políticos assumidos...

Isso não é nada demais..

Todo mandatário que senta na cadeira de prefeito de uma cidade de 500 mil habitantes, mais de 2 bilhões de reais de Orçamento, e do interior de um estado que está entre os três mais importantes da Federação tem que fazer acordos, tem que sonhar e repetir as trajetórias dos pais (governadores), e por quê não dizer, sonhar mais alto?

Todo mandatário de Vosso quilate e herança tem que tolerar alguns imbecis pelo caminho, claro...

Mas não é a prática política ou os acordos políticos que cassam sua capacidade de governar...

Penso, me desculpe, que é justamente o contrário: a sabedoria da coisa é conseguir governar "apesar" deles...

Não é o que tem acontecido...

Ouso pensar Vossa Excelência soterra (ou tenta) com ampla exposição em mídias sociais e pronunciamento ("governança direta") a incapacidade de pensar de seus assessores mais próximos, ou talvez o medo deles de disputar com Vossa Excelência um naco de luz dos holofotes que lhes são direcionados...

O máximo que Vossa Excelência tem conseguido, no meu raso entender, é uma imobilidade barulhenta...

Não são os acordos, repito, nem sua inclinação a cortejar o espantalho fascista, que serve ao mercado parasito-financeiro, e sua plêiade de hienas e chacais da tecnocracia e peçonhentos do centrão...

Nada disso..

Lula está aí para provar que todo acordo é possível, mesmo depois de golpeado, atacado, perseguido e preso, ele estende a mão ao representante da pior (se há alguma que preste, diga-se) facção da Igreja Católica (Opus Dei) misturada com o capitalismo paulista, que tem bichos nos pés, mas se imagina sócio de Wall Street...

O picolé de chuchu é um dos ícones restantes do partido que pariu o golpe de 2016...

Vossa Excelência tem direito a escolher os atalhos que julgar mais eficazes, por certo, e sempre em tempo, reavaliar seus caminhos...

Vossa Excelência só não tem direito a se render à mediocridade...

Veja, Vossa Excelência o caso do transporte público...

Todos os sinais apontam, gritam berram que em breve, se nada for feito, teremos o domínio completo (porque já existe algum, por certo) de grupos organizados criminosos (milícias) do setor de transporte, diante da total desintegração do setor...

Não há saída negociada, e em breve, não haverá saída alguma...

Macaé e Rio das Ostras, cidades-irmãs, e primas de Campos dos Goytacazes na maldição dos royalties (doença da opulência) experimentaram eventos violentos em suas ruas, dignas dos filmes de Far West, com tiros e mortes à luz do dia pelas ruas daquelas cidades...

Nem vou ser mais sombrio e citar a capital do Estado, e suas regiões metropolitanas...

O setor privado de transporte NÃO DEU RESPOSTA AO PODER CONCEDENTE (AS PREFEITURAS), para dotar de soluções viáveis a execução de um serviço decente, eficaz e com preço razoável...

Receberam rios de dinheiro do programa de subsídio de passagens (1 real)...Nada deram em troca...

É mentirosa a versão de que foi o transporte complementar ("vans") e o transporte pirata ("lotadas") sangraram o setor, já que mesmo quando havia forte aporte de dinheiro nos cofres da empresas, o péssimo serviço, e injustificado, abria espaço para estas alternativas parasitárias...

É verdade que o capitalismo periférico e esmolambado brasileiro, como todo de mesma cepa, tem parte da responsabilidade do problema (uma boa parte, é bom dizer), porque empurra os pobres para cada vez mais longe, e os torna dependentes de transportes caros e ineficientes...

Hoje, não há mais jeito, senão estatizar todo o setor, adquirir veículos em leasing, ajuizar a ações para responsabilizar os donos de empresas pelo não cumprimento do objeto das concessões, realizar concurso público para contratação, via empresa pública, de motoristas, cobradores e demais funcionários em regime celetista, além de criar aplicativos de controle do fluxo de passageiros e de funcionamento das linhas, e enfim, a instalação de GPS nos veículos para fiscalização e controle...

E claro, aumentar os tributos das empresas cujos empregados usam o transporte, ou fazer com que paguem a maior parte das tarifas...

Depois, se for o caso e do interesse público, vender esta estrutura a quem se interessa em explorar o serviço, recuperando o investimento público, seja com amortização direta do investimento público, seja com a amortização indireta no preço das passagens...

O caso das empresas de transporte público é muito parecido, Vossa Excelência, com o setor canavieiro...

Com uma pequena diferença: ao contrário do transporte, não se trata de um setor vital à nossa região, e apesar da enorme propaganda (o que nos alerta ainda mais para o nanismo econômico do setor), é certo que esta atividade econômica já estaria extinta faz décadas, caso não estivessem agarradas em verbas públicas, na forma de incentivos diretos (fundos), renúncias fiscais, e como hoje sabemos, em alguns casos, falcatruas tributárias...

Porém, se Vossa Excelência quer, de verdade, gerar empregos e dinamizar a lavoura e a (quase)indústria canavieira, municipalize uma cooperativa, organize-a em modos justos de partição de lucros e prejuízos, produza energia de biomassa (eletricidade), com fornecimento de álcool para frota de serviços públicos (ônibus, táxis, veículos da Prefeitura, Estado, e União) a preços de custo, e para os demais consumidores residentes na cidade, com preços mais baratos do que os praticados pelo mercado...

Remunere as Universidades e seus laboratórios de biotecnologia, agronomia e outras ciências vinculadas para pesquisa e criação de novas maneiras de cultivar com menor impacto ambiental (consumo de água, por exemplo)...

Agregue os pequenos agricultores do MST e outros pequenos proprietários...

Enfim, desafie a realidade, Excelência, não seja engolido por ela...

Rogo que Vossa Excelência ouça meus apelos...


Atenciosamente...














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