quinta-feira, 10 de março de 2022

Nossa água não mata sede...mata quem a bebe!!!!!!

O cinema, na minha opinião, tem o poder de elevar certas narrativas biográficas a um patamar de reflexão (algumas vezes em caráter coletivo) que nenhuma outra forma de manifestação artística alcança...

Vejam, esta é só minha opinião...

Tem gente que acha que este poder é da música, das artes visuais (pintura, escultura, fotografia, etc.), teatro, dança...

Eu prefiro o cinema...


Neste diapasão, dois filmes me marcaram violentamente, dentre tantos outros...

Erin Brockovich...e Dark Waters, o primeiro protagonizado por Julia Roberts, e o segundo, Mark Ruffalo...


Tratam do mesmo tema: a sistemática e criminosa ação de grandes grupos empresariais na contaminação do abastecimento de água de enormes contingentes populacionais com substâncias capazes de causar danos mortais, e em outros casos, irreparáveis aos sobreviventes...


A PG & E (sigla para Pacific Gas and Eletric Company) e a Du Pont foram as empresas desmascaradas pela ação implacável dos heróis retratados nos filmes, que como cabe a um bom enredo hollywoodiano sofrem antes com a descrença de todos, abalos familiares pela persistência que chega às raias da obsessão, e claro e principalmente, com os efeitos de desafiarem o enorme poder econômico destas megacorporações, suas ramificações na mídia e em governos!


No caso da PG&E, a substância era o cromo hexavalente, um tipo de insumo usado para evitar a corrosão das peças da usina geradora de energia pelo contato constante com a água de resfriamento e outros processos...


O cromo hexavalente era jogado no lençol freático quando a água residual dos processos era acumulada sem qualquer proteção em enormes tanques, que por óbvio, infiltravam no subsolo...


Já no caso da Du Pont, a substância empregada era o Ácido Perfluoroocatnóico, ou C8, como era conhecido na indústria...


O filme com Mark Ruffalo, apesar das óbvias diferenças entre os personagens, segue o mesmo caminho...


Merecem ser vistos, por isso nada mais contarei sobre ele...


O fato é que estamos vivendo situação parecida há décadas em nossa cidade e em nossa região...


Em um país com históricos números de péssimo atendimento em saneamento básico (água potável e recolhimento e tratamento de resíduos) a questão da água sempre foi pautada por muita desinformação, manipulação e crime!


Durante anos e anos, setores empresariais e agro empresariais captaram volumes enormes de água como insumo para suas atividades, sem qualquer pagamento, e depois, com pagamentos muito aquém do real custo do uso do recurso...


Ao mesmo tempo, as cidades dividiram o uso e consumo da água com a mesma lógica hierárquica de sempre: pobres com pouca água, e de baixa qualidade, e ricos com muita oferta e boa qualidade de água...apesar dos pobres pagarem proporcionalmente muito mais pelo produto...


Agora, nos parece que o problema afeta a todos, já que todos bebem água...envenenada...


Na cidade de Campos dos Goytacazes, e em tantas outras pelo país, as empresas de água seguem produzindo água com níveis preocupantes de substâncias tóxicas, que é oferecida todos os dias, como uma morte lenta e anunciada os cidadãos...


Faço referência ao texto do companheiro e Professor Marcos Pedlowski (aqui)

O mapa da água nos revela que não estamos em situação muito diferente dos vizinhos das plantas da PG&E ou da Du Pont...

Esta questão deveria trazer à tona um tipo de indignação coletiva desenfreada e extrema...

Imagine se alguém te disser que adiciona um pouco de veneno à sua comida todos os dias...

É o que empresas, agronegócio e empresas de captação e venda de água estão fazendo...


Como nos relatórios da PG&E, ou da Du Pont, os dados  do Mapa da Água estão aí para quem quiser ver...


Certamente alguém, contaminado pelos interesses econômicos (desculpem o trocadilho), lhes dirá que não tem jeito, como fazer para resolver um problema sem onerar este sistema?


Ora, ora, ora, senhores...


Se de fato houvesse presidentes, governadores, prefeitos, parlamentares, procuradores municipais, promotores, órgão de fiscalização, entidades de classe, enfim, se houvesse sociedade civil e entes públicos e estatais dispostos a enfrentar a questão, a solução é óbvia:


- Responsabilizar civil e criminalmente toda a cadeia produtiva e econômica vinculada ao uso de água e despejo de rejeitos tóxicos no ambiente, como agro negócio, empresas de fertilizantes e agrotóxicos, empresas de saneamento, gerando valores indenizatórios e tributações específicas para arcar com os elevadíssimos custos do tratamento de pessoas envenenadas e para prevenção e correção dos níveis de contaminações futuras!!!!!


Não enxergo ninguém, seja na direita ou na esquerda, seja o Prefeito Wladimir Garotinho, sejam seus desafetos na Câmara de Vereadores, ou sua base de apoio que sejam capazes de enfrentar este problema com, digamos, o básico: coragem...


Não, não vejo...


Até porque, Vossas Excelências, ao contrário de boa parte de nós, mortais (e com nossa água, cada vez mais mortais), podem pagar água mineral...

Eu acho que ficaremos à espera de algum filme, algum herói improvável...algum tipo de ilusão dramática e trágica, como Chagas Freitas se banhando no Paraíba do Sul...




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