terça-feira, 6 de outubro de 2020

A diferença entre traficante e comerciante!

 Há anos que este escriba (descrição que tomo emprestada do Blog do Marcos Pedlowski no texto que apresenta nosso Diário de Pandemia) fala da impropriedade das políticas públicas de proibição de venda e consumo de drogas.


        Os dados coletados em décadas, per si, não parecem ser suficientes.

          Eles estampam a incapacidade de conter o consumo, que aumenta apesar (e pela) destas políticas quase universais de proibição.

    A estigmatização do tema afasta qualquer chance de convencimento à renúncia ao uso/abuso de drogas, deixando o tema ao sabor daquelas teses já conhecidas, os "argumentos policiais".

         Isto tudo redunda na completa falência dos sistemas de segurança pública dos países envolvidos nesta empreitada, que não são (e nunca serão) capazes de enfrentar o enorme PIB destes mercados ainda ilegais.


        Do mesmo jeito que os mercados legais se distribuem ao redor do planeta, com hierarquias geopolíticas e geoeconômicas, também se distribuem os mercados ilegais (tráficos de gente, armas, drogas, etc).


           E pior: várias vezes já ficou comprovado que estes sistemas ilegais e os chamados legais se cruzam, promiscuindo recursos e interesses.


       A medida que observamos mais desigualdade nestes países onde se instalam tais mercados ilegais, maior é a violência empregada pelas forças de repressão, e entre os grupos criminosos que rivalizam entre si (concorrem) pela primazia e hegemonia de tais mercados, e os resultados são montanhas de mortos por armas de fogo.


        Primeiro é preciso repetir: Toda decisão estatal normativa (legislativa) de contenção ou tolerância com este ou aquele ingrediente psicoativo, sejam o álcool ou a nicotina, o ópio ou o cloridrato de cocaína, nascem de uma demanda econômica específica, aliada a questões e interesses políticos de classes.

            

            Um exame não muito detalhado, por pessoas com mais de dois neurônios, traz a dúvida: por que pode se entupir de álcool e não de maconha ou cocaína?


                Aspectos sanitários? 

                Não creio, já que ambos representam perigos semelhantes à saúde.

                Aspectos de segurança?

                Uai, mas o álcool está diretamente relacionado a boa parte das mortes no trânsito, e por outro lado, nos índices de violência doméstica, e por fim, nos crimes contra a vida.


                Temos então uma mistura de motivos que justificam tamanha incoerência em proibir algumas drogas, enquanto  permitimos outras.


                    Você já imagina que a principal seja a pressão das indústrias dos drogas legais, que em algum tempo venceram a corrida "moral" das sociedades, deixando na ilegalidade seus principais concorrentes.


                    É isso mesmo!

                    Outros aspectos são de classe.

                   Durante o fim do século XIX e início do século XX, após o retumbante fracasso da Lei Seca nos EUA, e como naqueles tempos nasciam as ideias de criminalização de certas parcelas da sociedade (principalmente os negros, além dos pobres e latinos), algumas drogas foram eleitas pelas elites como aquelas que ficariam vinculadas às classes mais pobres, justificando assim a repressão policial à todas as manifestações, sejam culturais ou políticas destes estratos mais pobres das sociedades.

                    Adicionado elementos morais das igrejas, foi como pescar no aquário!


                    Claro que toda esta "guerra às drogas", aqui no Brasil e no resto do mundo, tem suas classes dirigentes e beneficiárias que quase nunca têm suas identidades reveladas, enquanto a massa pobre e preta segue se matando nas favelas aqui do Brasil, ou nas gangues hondurenhas, mexicanas ou de Los Angeles.


                    Mas há também os setores legalizados que se aproveitam enormemente deste mercado ilegal, como bancos, indústrias de armas, insumos de segurança, e claro, a mídia, que lucra horrores com a amplificação da histeria hipócrita das classes pobres, médias e ricas, e justificando os mantras punitivistas, do tipo, "bandido bom é bandido morto", ou "morreu porque tinha envolvimento" ou "passagem na polícia".


                    Por óbvio, que se tais mercados são construídos sobre uma estrutura hierarquizada, o combate e a repressão destas atividades encontram na sociedade (hipócrita) formas diferentes de censura.


                Ontem, lendo a página da Al Jazeera, encontrei uma matéria que me motivou a escrever este texto.


                    Leiam na reportagem que a rede estadunidense WalMart está as voltas com problemas judiciais e questionamentos societários (dos acionistas) por ter escondido, deliberadamente, que desconsiderou as precauções acerca da venda de medicamento à base de opioides.


                     Os EUA vivem uma verdadeira epidemia, e em algumas cidades já evoluiu ao estágio endêmico, de abuso de opioides, que é a substância principal da droga conhecida como heroína.


                    Será que a DEA ou a SWAT vai invadir as lojas do WalMart atirando para todos os lados, com cães, helicópteros, escudos, gás, e o escambau?


                        Acho que nem em filme.

                 A diferença entre tráfico de drogas e negócio legal não é o que você vende, se o que você vende é proibido ou controlado, mas quem você é na "cadeia alimentar capitalista".

                    A diferença é se você é Fernando Beira Mar ou Zezé Perrela.

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