quarta-feira, 3 de março de 2021

Sobre mídia, lava-jato, judiciário e outros sócios das elites subalternas.


Ilustração de cena de punição inquisitorial.

Não há mais dúvidas.

Salvo entre os fieis extremados do nossa ultra-direita-macunaíma, de que os processos judiciais movidos contra o PT, Lula, Dilma, etc, e uma parte de seus aliados obedeceram uma lógica calculada e sistêmica.

Estes "autos de de fé" (Inquisição) funcionaram como uma arma política para dotar os setores conservadores de capital político para oferecerem um contraponto àquilo que eles desenharam como uma hegemonia "vermelha".

Há vários problemas a serem tratados nesta análise.

O primeiro deles é a hipérbole cínica de fazer crer a todos que os setores de esquerda/progressistas contavam com mais poder do que realmente detinham.

Este truque é genial, e nasce das táticas militares semióticas, ou guerras híbridas, como preferem alguns.

Quando dou dimensão diferente (maior ou menor) ao adversário, e quando posso controlar a narrativa sobre ele (como é o caso da esquerda brasileira e da sua relação com a mídia), eu impeço que este adversário possa avaliar si mesmo, e por consequência, nublo sua capacidade de avançar e/ou reagir.

O PT entre 2002 e 2016 não era uma força preponderante capaz de alterar ou ameaçar alterar as estruturas de desigualdade capitalista no país, ao contrário, obedeceu fielmente as regras "republicanas" e da ortodoxia econômica, praticando um semi-keynesianismo-caboclo ou um desenvolvimentismo avexado, tímido mesmo.

A partir desta noção errada, dentro de um governo de coalizão, sem saber ao certo seu "tamanho", já que a agenda eleitoral exige exageros para o sucesso sufragista, o PT naqueles tempos de "conforto econômico", resultante do crescimento da base exportadora primária (as tais commodities), achava que podia demais.

Com o avalanche judicial passou a achar que podia de menos.

Pode parecer besteira voltar a 2006, ou a 2013 ou a 2016, mas o fato é que a ressaca atual vivenciada pelo PT e suas lideranças é fruto desta percepção equivocada, não tanto pelas "traições" praticadas por "aliados" que tão logo que puderam pularam de lado, e passaram a integrar as forças golpistas, mas principalmente pelo fato do PT e suas lideranças entenderem que sua queda foi maior que foi na verdade.

O PT, como vemos, nunca achou o tamanho certo de seu poder.

Como um ente político bipolar, o PT oscila entre acreditar que está no fundo do poço, e cede a manipulação cretina da mídia e seus sócios, que transita de creditar ao PT uma ameaça de socializar o país, ou tornarmos uma Venezuela, e depois diz que o PT "acabou".

Na outra ponta, Lula e o PT acreditam que mantêm intactas as bases de seu pacto reformista, apostando nas mesmas soluções "republicas", institucionais ou representativas de sempre, sem enxergar seu esgotamento, e mais, sem propor qualquer outra tática ou estratégia se superação delas.

Ao lado desta concepção, está a mídia que nega qualquer espaço ao PT como ator político, ao mesmo tempo que vende o PT como enorme ameaça, esta mesma mídia conclama todos ao centro para evitar o PT, pois é a principal força radical antagônica a Bolsonaro, que se iguala a ele no extremismo.

Para a mídia, embora o PT esteja "derrotado", ele (o PT) nos levaria a uma situação onde o país esticaria-se entre dois vetores contrários e de mesma intensidade, sob o risco de colapso.

É este jogo parte da confusão que a mídia sugere, e o PT acredita.

Mentiras, mentiras, mentiras.


Em nenhum, repito, nenhum momento a primazia capitalista esteve ameaçada de sequer um arranhão leve em sua carcaça estrutural, movida pelos eixos da exploração/acumulação permanente, geradoras de intensas desigualdades.

Assim, as tarefas que eles imaginam em estado adiantado, que vão desde forçar o PT a mover-se mais para a direita, e se diluir ainda mais no chamado "centro", enquanto aprofundam as medidas econômicas caras ao ultra-liberalismo, revelam a atual inutilidade do lavajatismo.

Isto não implica que outros modelos de lawfare não possam ser usados, e pior, que estejam sendo usado, como no caso da PGR, da intervenção no STJ, MP/RJ e enfim, no STF.

Porém, o processo capitaneado pelo PCC (Primeiro Comando de Curitiba) já demonstra que seu espaço está reduzido.

O "tribunal do PCC de Curitiba" trouxe o ambiente político ideal para o aumento dos ganhos da banca, e imobilizou preventivamente qualquer ideia de um novo governo para reverter o quadro, pelas dificuldades parlamentares de sempre (sub-representação das forças progressistas) .

Portanto, ele (o lavajatismo) agora se esgota não pela revelação das mensagens do PCC e seu líder Moro, porque qualquer rábula de Direito, que tivesse um mínimo de vergonha na cara (são poucos, é verdade), diria que os processos do PCC estavam mais para os "tribunais do PCC/SP" que para devidos processos legais-penais, mesmo sem ter conhecimento daquelas conversas indecorosas.

A dúvida (talvez retórica) é agora saber por quê os associados ao PCC de Curitiba não estão nos bancos dos réus, ou presos preventivamente, quando poderiam nos ofertar delações interessantes?

Eis a resposta.

Agora é hora de rearrumar a "casa" do judiciário, e tentar poupar sua cúpula (STF, STJ, etc) da vergonhosa prestação de contas que nos deveriam (caso isso aqui fosse algo parecido com um país), não por pena dos "Ilustres Magistrados", mas antes para permitir que possam ser usados de novo, caso outra ameaça vermelha apareça no horizonte, ou que aja algum ímpeto revisionista do golpe de 2016, e das medidas ultra-capitalistas que destroçaram nossa já cambaleante estrutura de proteção social.

Por isso, a "punição" ou o descarte do PCC de Curitiba vai seguir a mesma rotina de hipocrisia, seletividade, desfaçatez, ingredientes habilmente manipulados pela mídia e pelas elites subalternas a serviço das elites dos países ricos.

Se os "processos do tribunal do PCC/PR" foram rápidos, de exceção mesmo, como sequestro de acusados em prisões ilegais, e toda sorte de coações, sem mencionar as fundadas suspeitas de interesses patrimoniais de advogados de "defesa", operadores da indústria de delação premiada, e que poderiam estar apaniguados com juízes e promotores (caso Tacla Durán, por exemplo), não veremos a mesma "pressa" para corrigir os seus "erros" (nome delicado para chamar os crimes).


Também teremos espaço para alguma "rendição" da mídia, que tal e qual em 64, quando só recentemente "pediu desculpas", tentará inferir que foi levada pela boa-fé, ou pelo interesse nacional do "combate à corrupção".

(risos)

Pequenas notícias:

- O caso VISANET, que deu sustentação a tese da ação 470, aquela chamada pela mídia de "mensalão", quando dentre outras aberrações temos o voto da juíza Rosa Weber, que inacreditavelmente condena José Dirceu não pelas provas, mas "pelo que permite a literatura" (um tipo de power point de convicções sem imagens, só texto), agora recebeu a classificação correta: 

FOI UM CASO FRAUDULENTO, pois nenhum dos recursos depositados no chamado fundo era ESTATAL, e 90% destes recursos FORAM REALMENTE GASTOS EM CONTRATOS LÍCITOS DE PUBLICIDADE!

Henrique Pizzolato, preso, caçado internacionalmente, destruído, falido, agora será considerado inocente de boa parte dos principais delitos pelos quais foi condenado, e por certo, sem crimes próprios de servidores públicos (corrupção ativa, passiva, etc) não se pode sustentar a tese basilar da farsa:

De que o dinheiro era desviado para "comprar" votos e apoio partidário-parlamentar.

- TCU pediu hoje ao STF as mensagens do PCC de Curitiba, para avaliar suas decisões acerca de supostos atos e infrações do governo do PT e aliados na sua esfera de atribuição.

- Ontem, por 3 votos a 2, dentre outros, o presidente da Câmara dos Deputados teve sua ação penal suspensa e invalidada, com uso do conteúdo das mensagens do PCC de Curitiba, onde o juiz Gilmar Mendes cinicamente usa como base de argumento da sua tese, de que a ação impugnada era uma criminalização da ação política e partidária, mas diz que não as valida (as mensagens) por tal citação.

(risos)

Mais contorcionismo hermenêutico nem Kafka sonharia em pensar.

O juiz Gilmar segue seu voto (de fé?), e considera que a denúncia deveria ser inepta, por conter apenas delações, e declarações de delatores sobre outras delações (delações cruzadas, nas palavras do "ínclito" Gilmar Mendes).

Ou seja, o que valeu para o PT, agora não vale mais.

Será que Lula, Dilma, Zé Dirceu, Genoíno, enfim, o PT aprenderam alguma coisa?

Tomara que sim.





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