segunda-feira, 1 de março de 2021

Colocando em pratos limpos?



Não nutro grandes simpatias pela categoria dos médicos, e guardo apenas algumas raras exceções em avaliações positivas, que no entanto, no meu leigo entender só confirmam a regra.

Sou capaz de compreender, e acho que até já escrevi algo sobre isso, que as corporações laborais tendem a responder aos processos de precarização a que estão sujeitas ao longo do tempo, e daí surgem as distorções no comportamento daquelas dedicadas ao atendimento ao público sempre acontecem.

É um efeito da exploração capitalista, que ao mesmo tempo exaure as condições dos serviços públicos, impõe ainda mais seletividade nestes atendimentos, quando aos mais pobres é dedicado um descaso muito maior.

No entanto, a categoria médica sofre de um tipo de esquizofrenia incomum, porque ao mesmo tempo que não entende a proletarização de seu trabalho, um tipo de estado de negação comum, quando seguem se imaginando um tipo privilegiado da "elite branca", sofrem os efeitos de um tipo de transtorno delirante de grandeza.

Quem assistiu a série "The Undoing", com os ótimos Hugh Grant e Nicole Kidman nos papeis principais vai saber o que digo.

Para quem não viu, fica a dica, quando puder, assista!

Em resumo, o citado transtorno se manifesta de várias formas, como qualquer distúrbio psiquiátrico, e longe de mim chamar todos os médicos de psicóticos, mas o fato é que boa parte deles expressa nas suas ações sintomas que podem ser associados ao transtorno.

Para o portador, via de regra, o mundo todo gira em torno de si, e seus atos de extrema bondade ou heroicos não acontecem com reconhecimento da necessidade do outro, com um ato de empatia, mas simplesmente para preencher a enorme lacuna egoística do transtornado, um tipo de sadismo especial.

Mais ou menos como nossa classe médica brasileira: 

Mimados e com licença para escolher quem morre ou quem vive.

Querem tudo ao mesmo tempo agora, querem ser reconhecidos, nunca questionados, bem remunerados, mas também querem escolher em que condições trabalhar, e o fazem sempre às custas da reserva de mercado rigorosa que a categoria estabelece.

Rejeitam qualquer proposta de alívio da demanda por profissionais, como foi o caso do programa Mais Médicos (os médicos de Cuba), ou com o impedimento de que o ensino médico seja algo acessível a mais gente.

Aumentar os investimentos públicos e ampliar as vagas nas vagas de universidades públicas, derrubando as estratosféricas mensalidades dos "shoppings centers acadêmicos"?

Nem pensar!

Se queixam de sobrecarga, mas chantageiam os gestores públicos justamente por causa desta falta de médicos para ocuparem as vagas nos serviços públicos.

Se concentram no Sul e Sudeste, onde está o dinheiro, ao mesmo tempo que dizem ser a profissão um "sacerdócio".

E por que tocar neste assunto em uma segunda-feira, 01 de março de 2021?

Não pude deixar de notar a repercussão do caso do vídeo da médica do HGG, em Campos dos Goytacazes, que supostamente nega atendimento aos pacientes, enquanto remete-os a reclamar com o prefeito, atribuindo a ele o caos na saúde.

Sem entrar no mérito em si, pois só uma apuração correta poderá concluir o que houve de verdade, eu fico a imaginar o seguinte:


- Caso o fato se desse no hospital da Unimed, ou outro estabelecimento de saúde privado qualquer, este vídeo aconteceria deste mesmo modo?

Uma médica assoberbada em um plantão (e eu mesmo já presenciei isso várias vezes no Pronto Atendimento da Unimed Campos, por exemplo), mandaria o paciente ou o familiar aflito procurar o diretor da cooperativa?

Ao mesmo tempo, haveria o registro da situação em vídeo pelo familiar do paciente pediátrico?

Creio que não.

Talvez o registro em vídeo houvesse, mas nunca alcançaria a repercussão atingida quando se trata da rede pública de saúde.

Já mencionei antes, só uma correta apuração dirá se a médica errou.

Porém, tudo o que aconteceu se resume a um ponto: ela responsabilizar o gestor público pelo ambiente impróprio pelo atendimento.

O Prefeito e seus auxiliares não se inclinarão a responder a população acerca dos ingredientes que alimentaram este caldeirão de omissões e decisões erradas que desarticulam a rede primária e secundária de atendimento à saúde local.

Basta a eles desagravarem o que foi dito pela médica, e dizer "quem é que manda".

A médica, a seu termo, sabe que emprego não lhe faltará, bem como sabe que o corporativismo classista não permitirá jamais que seus pares indiquem que sua conduta foi inapropriada.

Sim, sabemos que a gestão pública hoje se resume a algo parecido com aquele número de malabarismo, apresentado em sua grande parte por orientais, quando equilibram vários pratos na ponta de hastes compridas.

Mas se era para fazer o mesmo que os antecessores, assumiram para quê mesmo?

E observem que desde a transição, o vice-Prefeito foi nomeado como "czar" da Saúde em Campos dos Goytacazes.

Quem sabe teremos mais algumas "vistorias" do Czar-Vice aos hospitais?


Afinal de contas, se hoje governar é definir prioridades, saber dizer "qual prato não pode deixar de girar, e cair", qual é a prioridade deste governo atual?

A BR 101 e o fracasso da concessão a uma empresa PRIVADA, que depois de comer a carne vai deixar os ossos ao setor público, sem sequer ser admoestada juridicamente pelas prefeituras atingidas pelo descaso?

Ou reerguer o setor parasitário sucroalcooleiro, que sorveu bilhões de dólares de subsídios desde o Pró-Álcool, e parece que não satisfaz seu apetite por verbas públicas, embora amem ARROTAR a eficiência da livre-iniciativa capitalista?

Ou será continuar a cevar a rede contratualizada de atendimento de saúde (a rede privada), que recebeu nos últimos anos mais de 200 milhões de reais do orçamento municipal?

Será que o problema é só a médica e sua incontinência verbal?

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