terça-feira, 20 de outubro de 2020

Bolívia, de volta para o mesmo futuro!

 A esquerda latino-americana está em êxtase.

O sistema eleitoral funciona, e o povo boliviano foi redimido nas urnas, fazendo valer sua vontade obstinada.

Os reformistas e institucionalistas da esquerda brasileira e mundial bradam aos quatro ventos: 

"É possível mudar e consertar o sistema político pelo voto!"

Por que será que não consigo embarcar no otimismo desta gente?

Explico.

Antes de mais nada, sem a punição de todos os envolvidos no golpe anterior, que derrubou o Presidente Evo Morales, incluindo aí a expulsão da OEA e seus funcionários daquele país andino, de quase nada terão valido os esforços do M.A.S. (Movimento Ao Socialismo).

Ao mesmo tempo, todos os atos do governo ilegal necessitam de anulação imediata.

Estas premissas são imprescindíveis para a retomada de qualquer projeto político, antes interrompido pela força das elites locais, subordinadas e associadas à intervenção fraudulenta dos organismos multilaterais, que sempre estiveram dominados pela lógica de Washington.

Como acredito que as chances destas condições serem adotadas são remotas, fico com o meu realismo pessimista.

Não quero incorrer em leviandade, mas tenho boas razões para crer que uma das condições para a aparente facilidade com que as elites aceitaram o atual resultado resida em uma chantagem política cruel, que encurralará os movimentos populares bolivianos, que acreditam na possibilidade de alterar pacificamente as estruturas de desigualdade geradas pelo capitalismo, ou seja;

Manter o ex-presidente Evo Morales o mais afastado possível da nova administração, que deve ter se comprometido com outras agendas conservadoras.

O fato do presidente eleito ter sido seu ministro da economia por 11 anos não quer dizer muita coisa no jogo geopolítico e na luta de classes que se desenrola naquele pequeno país, que é alvo declarado da cobiça do pioneiro em fabricação em escala de carros elétricos da marca TESLA, uma vez que o subsolo boliviano contém o minério principal na fabricação das células energéticas dos automóveis.

Há outros interesses, é claro, como as jazidas de gás natural.

Porém, simbolicamente, a questão crucial para os EUA é deter o avanço da retomada dos governos locais pelos setores progressistas, como aconteceu na Argentina, agora Bolívia, Equador à caminho, e Chile em convulsão para estabelecer novo pacto constitucional.

Este novo arranjo também fortalece a retomada da reintegração da Venezuela no bloco sul-americano, outro pesadelo para o Tio Sam.

Por tudo isso, embora ludicamente me solidarize com a felicidade de parte dos bolivianos, temo acreditar que será passageira, como uma volta a um futuro já estabelecido e conhecido.







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