segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Precisamos de soluções mágicas!

     Como já mencionamos ao longo destes meses de jornada, no território do feicebuquistão, a quimera de que haveria um sistema político que proporcionasse níveis de representatividade política aos diversos setores das sociedades (classes),  e que por sua vez permitisse que as diversas classes e interesses em conflito pudessem revezar na direção do Estado foi só isso mesmo: uma quimera!
        Desde que o capitalismo se apropriou e sistematizou dentro de suas entranhas todas as formas de sociabilidade, primeiro para universalizar a mercadoria, depois o dinheiro e os mercados (nas palavras de Maria da Conceição Tavares), nunca houve a menor e pálida sombra de que as classes populares pudessem levar a cabo algum projeto político de poder que ameaçasse tais estruturas dedicadas a permanente e exponencial acumulação de riquezas nas mãos dos detentores do capital.
            Na chamada "democracia capitalista" não haverá, diga-se em alto e bom som, alternância de poder alguma, logo, não existirá nunca Democracia!
            Mesmo assim, quando surge na conjuntura uma leve e frágil proposta de reformar estas estruturas de concentração e poder hierarquizado, as elites confrontam-nas com golpes institucionais, justificados com ataques das artilharias ideológicas de propaganda.
        Há quem diga (como Robert Kurz, dentre outros adeptos da Crítica do Valor) que a totalidade capitalista transcende mais ainda, e se posiciona acima das classes que o integram, inclusive as dominantes, elas mesmas instrumentos de repercussão desse absolutismo ("democrático") capitalista, onde as escolhas nunca são escolhas de fato!
        A despeito deste debate, que reivindica mais tempo e espaço, o fato é que os modelos de representação política parecem cumprir o mesmo destino do sistema (capitalista) que lhe dá causa, e rumam ao abismo!
     Em época de eleições, quando o circo partidário coloca sua máquina em funcionamento, buscando certa legitimação popular (cada vez menos popular), as narrativas das elites renovam seu hermetismo e cinismo tecnocrático!


       De cima a baixo, pelo país inteiro, os meios de comunicações ecoam as cantigas de rigor fiscal, Estado mínimo, arrocho salariais de servidores (chamado de "sacrifício"), de horror ao "populismo", ao empreguismo, aparelhamento da máquina estatal, etc, etc, etc.
          Estes mesmos grupos são sócios menores do condomínio do poder econômico e político, vocalizadores de todas as teses anti-populares, e estiveram ao lado de todas as rupturas institucionais (golpes) da história política deste país, desde quando pudemos reconhecê-los como tais, seja o país, seja sua mídia comercial.
        Para tanto, recorrem aos de sempre, intelectuais de coleira, tecnocratas de estimação, empresários parasitas, dando-lhes a chancela de "sociedade civil", quando estão mais para Sociedade Anônima do Estado!
           Olhando o título deste texto, e se o raro leitor raro (raro porque muito o prezamos, e raro pois são muito poucos) há de se perguntar: "solução mágica", um ateu pregando a magia?
            Sim, no atual contexto onde a realidade parece fluída, invertida e distorcida, como uma ilustração retirada de alguma viagem de LSD, e a busca da verdade passou a ser substituída pela busca da narrativa que melhor funcione para cada evento (não importando a verdade, ou melhor, a sua busca), relativizando de forma absoluta as relações sociais, restou pedirmos por um pouco de "magia".

                Em capitalismo tardio, onde os ciclos de desenvolvimento (expansão) e estagnação (retração) são curtos, e as retomadas são cada vez mais lentas, a ponto de sequer serem percebidas como tais (nos parece que vivemos em eterna crise), o que nos leva ao recrudescimento drástico das taxas de desigualdades anteriores, aumentando nossa incapacidade de funcionar com certa autonomia relativa aos grandes centros, enquanto ficamos cada vez mais sujeitos aos humores das economias centrais, parece loucura (e é) tentar as mesmas fórmulas encontradas pelos países mais ricos para superação, ou melhor dizendo, mitigação dos efeitos da espiral de acumulação capitalista.
                Há algum tempo atrás, eu escrevi no feicebuquistão que parecia algum tipo de doença mental (talvez seja) que um empresário de Campos dos Goytacazes, do ramo de supermercados, e que por este motivo sobreviva diretamente do poder de compra dos moradores da cidade e região, pregue um enxugamento da máquina com demissões de pessoas que ficarão sem renda!
             No entanto, o que parece ser loucura (talvez seja) pode ser algo mais sofisticado (eu espero).
             O empresário em questão (que já alcançou faturamento de mais de 1 bilhão de reais/ano e que mira os 4 bilhões/ano, talvez para atrair os olhares gulosos por aquisição de outra rede do setor de caráter global, e viver o resto da vida de "day trading") nos mostra que seu compromisso não é com sua empresa (pelo menos não de forma originária, nem com seus clientes), obviamente, mas com a saúde fiscal e contábil das contas da prefeitura de sua cidade, com forma de garantia de pagamento de contratos que ele e outros empresários possam celebrar com este setor público.
                Mas o raro leitor raro por perguntar?
                Uai, mas não dá no mesmo, afinal, se aumentar a capacidade da prefeitura em contratar não teremos mais empregos e mais renda?
                Em parte sim, mas o que os empresários escondem por detrás desta "racionalidade" é que uma das intenções escamoteadas neste discurso pseudo-desenvolvimentista é que ao exaurirem a capacidade de investimento público direto, sequestrando os orçamentos públicos municipais em contratos e serviços pagos à iniciativa privada, desloca-se assim o eixo de poder, o eixo decisório, dando aos empresários e ao setor privado, que passam assim à maior e maior ingerência nas gestões públicas, ao mesmo tempo que conferem a tais empresas e seus donos o benefício de aumentarem a concentração das rendas locais em suas mãos, ao contrário de quando o setor público contrata diretamente seus servidores e/ou gere seus serviços.
                Depois, quando a "fonte seca", abandonam a cidade e seus cidadãos quando os ciclos de retração capitalista pioram.
                Como fazem todas as fábricas e empresas que, agraciadas com subvenções e contratos públicos, fogem com diabo da cruz quando cessam tais regimes fiscais exoneratórios ou quando são chamadas a maiores contribuições tributárias para ajudarem no caxa das prefeituras.
                Querem um exemplo? Fundecam.
                  

            Ao mesmo tempo, estes empresários acreditam (na verdadequerem nos fazer acreditar que acreditam) na tolice de que o enxugamento fiscal do setor público gere riquezas e atraia algum tipo de desenvolvimento econômico de escala, que lhes garanta certa expansão de seus negócios!
               Esta lógica acima pode ser encaixada em uma metáfora médica, que diz que às vezes, o remédio mata o doente!
                É o caso, e pode ser superlativa a metáfora, pois nossos "gênios" da sociedade civil S/A além de matarem o doente (prefeituras) por inanição, ainda vendem todos os órgãos para que sejam transplantados para suas estruturas capitalistas estado-dependentes!
                  O liberalismo nacional é um tipo de kenysianismo frankestein e invertido!
          Ainda que eu reconheça que as verdadeiras soluções keneysianas em capitalismos de periferia sejam fadadas a um certo fracasso, o fato é que as "racionalidades tecnocratas" não chegam nem perto de ajudar-nos, e pior, aumentam por demais o sofrimento dos mais pobres!

            Na verdade, o que funcionaria mesmo é o fim do capitalismo e de suas formas de organização sociais e políticas, mas aí já seria "magia" demais, apesar de que o mundo atual autorize a conclusão de que o "mago-nostradamus" Marx estava certo, em grande parte.
            O capitalismo ruma ao seu fim, mas não pela contradição de classes, e sim pela sua contradição inerente e mais letal, o mercado financeiro!
             A prestidigitação (mágica) aqui não seria a ilusão, mas trazer à tona um olhar alternativo que soterre de uma vez a racionalidade técnica, que de técnica nada tem, e de racional menos ainda.
              Tomemos o exemplo da cidade de Campos dos Goytacazes.
          Depois de quatro anos, o único postulado defendido pelos "gênios da tecnocracia fiscal" é culpar o ciclo anterior de administração, incapazes que foram de elaborar uma única solução original para os problemas que dizem ter herdado!

           A bem da verdade, como também já demonstramos, no campo fiscal, o atual governo continuou na mesma trilha dos anteriores, tanto na gestão previdenciária (conforme nos informou recentemente o TCE-RJ), seja na irresponsabilidade fiscal de ignorar a necessidade de ampliar a capacidade de arrecadação própria do município, e mais, de alterar a regressiva estrutura tributária da cidade, onde, como sempre, os mais ricos não pagam impostos, e quando pagam, o fazem em nível proporcional muitíssimo inferior aos mais pobres.
                    
        Na área da saúde, por exemplo, não temos notícia de cobranças do Erário pelos atendimentos devidos pelo setor de planos de saúde dos atendimentos feitos pela rede pública a segurados destas empresas.

          Não há notícia alguma acerca dos níveis de comprometimento de recursos públicos com renúncias fiscais, e sobre a conveniência de manter estes "agrados tributários" aos empresários-parasitas.

            Dentre os principais postulantes, todos eles sequestrados e confinados nas câmaras de gás ideológicas das mídias e "academias", não há qualquer sinal de que a "magia" pode vencer o terrorismo fiscal.

            Enfim, as cidades deste país precisam de muita "mágica" para que apareça um projeto político que nos revele que tudo que foi feito até agora foi truque, uma bem elaborada encenação para que nós não enxerguemos os verdadeiros gargalos que sangram os cofres públicos, e que nos deixam à própria sorte! 


                
    



                    


            

            

        

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem faz a fama, deita na ca(â)ma(ra)? Um breve momento na Gaiola das Loucas!

  Algo vai muito mal quando juízes e policiais protagonizam política, e pior ainda, quando são políticos que os chamam para tal tarefa... Nã...