quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Kassio, O Escasso!

Eu quase sempre utilizo o ótimo conto de Lima Barreto, O Homem que Sabia Javanês (que você pode ler se quiser), para me referir a certos tipos e personagens da política nacional e local, assim como certa cepa de intelectuais de coleira das elites e meios de comunicação!

Para quem não leu, e não vai ler, aqui vai um resuminho safado:

O personagem-narrador, um truque bem comum aos contistas da época, discorre com um amigo sobre suas diatribes e esquemas de sobrevivência, e ao cabo de algum tempo, faz-se passar por intérprete de uma língua exótica, o javanês.

Como ninguém o equipara no conhecimento de estranho idioma, ele vai galgando posições sociais e ganhos econômicos, tudo estruturado em um capital intelectual que nunca deteve!

Alguns mais severos, e desprovidos do humor e compaixão pelo modus vivendi do personagem, o diriam um criminoso, um golpista vulgar!

Não concordo!

Quisera nós que nossos ilustres representantes e mandatários federais de hoje tivessem a mesma fleuma, e o mesmo savoir-faire, para nos iludir que são melhores que são.

Oxalá soubessem o javanês!

Qual nada!

Atolados estamos em completa mediocridade e falta de imaginação!


Olhem o caso do pretendente a vaga de juiz na Corte Constitucional.

Quanta pobreza de espírito fraudar em documentos as suas qualidades, e além de mentir descaradamente, e sem nenhum charme acerca dos seus títulos, é bem possível que aqueles que obteve realmente tenham sido alcançados com o não menos desprezível plágio de trabalhos alheios!


Nem Lima Barreto, nem o Bruxo do Cosme Velho, nosso Machado de Assis, enfim, nem Stanislaw Ponte Preta, encarnação do não menos lendário Sérgio Porto seriam capazes de tornar engraçada a triste e melancólica história do juiz Kassio, O Escasso!

É alarmante sua escassez de argumentos que o livrem desta fraude, que nos tempos machadianos, talvez, fosse levada às barras do tribunais, como falsidade ideológica, eis que disse:

"Erro de tradução".

Nem o Homem que Sabia Javanês teria tanta cara de pau para justificar deste modo!

Parece-nos que a aridez não é só de argumentos, mas como indicaria a boa lógica, de capacidade intelectual que alimente qualquer argumento!

O caso do juiz Kassio, O Escasso, confirma várias premissas, e nenhuma delas nos redime:

- Para ser parte do governo mais à direita que a direita já construiu no país, é preciso ser um completo idiota.

E por derradeiro, fica evidente que os idiotas detestam a ciência e o estudo, mas amam os títulos que a pesquisa e o trabalho árduo, enfim, que a só o exercício honesto da ciência deveriam conferir!

No país onde qualquer rábula de tribunal é chamado de doutor, que juiz é chamado de doutor, onde promotor exige assim ser chamado, e até fisioterapeuta quer se chamado de doutor, Kassio, O Escasso nunca soube Javanês!  





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