segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A volta dos que nunca foram...

Gostemos ou não do resultados das eleições municipais, ainda fresquinhos nas páginas de totalizações do TSE e dos TRE, uma coisa é certa:

- Pulularão quinzilhões de análises, e 98% delas com algum comentário ou inflexão que busque uma (nova) derrota do PT e a vitória de alguma novidade eleitoral.

Já é de praxe.

No Estado do Rio de Janeiro, a bola da vez (novamente) parece ser o PSOL, o partido preferido da direita para colocar a colher no capital político do PT.

Com votação quase idêntica à terceira colocada, com 0.03% de diferença, Benedita da Silva conseguiu votação expressiva, se considerarmos as históricas dificuldades do PT fluminense.

Em SP, apesar de Boulos ter sido ungido por Lula como um de seus interlocutores prediletos, desde a prisão, em uma sinergia que provocou até mal estar nas instâncias internas do PT e da candidatura de Jilmar Tatto (que demarcou um importante campo, se aproximando de Russomano), o fato é que não há nenhuma menção a esta circunstância na mídia empresarial.

Há outros exemplos, mas qualquer análise mais detalhada é ainda precária, e sempre será pois: 

Eleição não é um fenômeno que se limita em si, ao mesmo tempo que as ligações entre pleitos estaduais e o nacional guardam particularidades ainda não totalmente decifradas por ninguém, repito, ninguém mesmo.

Temos os pleitos locais mais "nacionalizados" e outros cujas pautas têm como alvos principais as questões municipais.

Nenhum analista até hoje conseguiu determinar o nível de correspondência e influência recíprocos destes fatores.

Porém uma conclusão preliminar aponta no horizonte:

A desesperada tentativa da direita em vestir-se de centro para tornar viável seu projeto de permanência no poder central em 2022, deslocando o eixo político para temas e símbolos caros à esta noção.

Este movimento não é, e nunca foi novidade no país, e quiçá no mundo.

O pós guerra na Europa capitalista não levou ao poder as forças de esquerda que foram usadas como argumento para justificar o apoio da direita "civilizada" ao nazismo e fascismo, ao contrário, a maioria dos países envolvidos entregou sua transição a grupos moderados e de centro.

No Brasil, a cada ruptura institucional pró autoritarismo, e a cada volta à normalidade institucional, emergem as mesmas forças conservadoras, sob inúmeros argumentos, mas o principal dele é a retomada da estabilidade.

Ora, ora, ora...mas se foram estas forças que provocaram tal instabilidade.

Seria cômico se tragédia não fosse.

No Chile a mesmíssima coisa, no pós Pinochet. 

Na Argentina, idem. 

Uruguai, também.

O alerta geral vem da Matriz, os EUA, que apesar de ainda rachados ao meio, indicou que o caminho da filial (nós) deve ser pelo centro.

Pausa para rir:

(risos).

A partir de agora veremos uma corrida maluca para troca de roupa, como uma peça teatral com vários figurinos.



Vamos ao caso particular, a cidade de Campos dos Goytacazes.

Gostem ou não seus detratores, a eleição atual só confirmou o que já se sabe faz tempo:

O garotismo é a única forma de movimento político orgânico no município, inclusive é a única referência para os que dizem ser seus adversários.

O recém triturado prefeito passou 4 anos sem governar, falando do governo anterior (da esposa do Garotinho).

Ao mesmo tempo, o grupo emergente dos Bacellar idem, isto é, só existe como tal pelo antagonismo ao cacique da Lapa.

O candidato-filho do ex- Prefeito Arnaldo Vianna, ele mesmo cria da Lapa, é outro exemplo de que não há nenhuma vida política para além dos limites do garotismo na cidade, pelo menos não até agora.

O PT é o caso mais triste de todos, porque nem conseguiu elaborar uma plataforma anti-garotista eficiente, ficando como a pior versão daquilo que já é muito ruim, ou seja, um projeto político que tem como única referência um personagem específico.

É claro que não se trata de culpar "A" ou "B".

Até porque não podemos ignorar o peso de uma liderança que foi Governador de Estado, elegeu sua esposa no primeiro turno como Governadora (totalmente desconhecida, na época), e depois prefeita, e tem dois filhos eleitos deputados federais.

O projeto político que seja alternativa a tal fenômeno não passa por minimizar tais efeitos e repercussões, como uma espécie de "autismo político".

Porém é preciso não lhe dar uma dimensão maior que já tem.

É uma equação nada fácil, mas ela surge como ingrediente principal da política (lato senso), que é (ou deve ser) a expressão real da nossa capacidade de imaginar cenários e de fazer estas projeções se tornarem realidade.

O PT abdicou desta capacidade em nome de um pragmatismo que também não sabe operar, e que ao contrário do que se possa imaginar, nunca foi adversário ou oposto desta capacidade de abstração política...nunca.

É justamente esta capacidade de conceituar a realidade que reforça qualquer traço de pragmatismo político, e não o contrário.

Para o combate do garotismo é necessário entender seu apelo, e criar linguagens que concorram e/ou substituam este projeto de poder, a partir de ousadas formas de fazer política, mas que não têm nada de inéditas.

Enquanto tentar vocalizar nesta cidade seus anseios pelos mesmos meios do garotismo, ou através de outros meios (a mídia local, por exemplo) que detêm nenhuma (ou pouquíssima) legitimidade, o PT vai seguir falando sozinha:

Sem ser o porta-voz das elites (que odeiam o PT), e sem comunicar com a população mais pobre, que não entende o PT (enquanto alguns também odeiam-no).

Um exemplo?

A ótima votação de José Maria Rangel, quase 3.000 votos, e nenhum coeficiente eleitoral para o PT, o que lhe ceifou a vaga na Câmara de Vereadores.

Portador de uma narrativa estritamente corporativa, até quando falou das soluções para cidade, ficou restrito a um nicho, e parece com um artilheiro que fez 50 gols no campeonato, mas viu seu time ser rebaixado.

Parecia candidato a presidente do Conselho Deliberativo ou Administrativo da Petrobrás.

Certamente teve apoio de bastante gente, mas e daí?

Rangel não veiculou em nenhum momento nada mais que os velhos chavões sobre os "desvios dos royalties", e sequer foi capaz de verbalizar o óbvio:

O dinheiro encheu as burras das elites, que agora nos vendem a conta do saque como "crise".

Este era o principal diferenciador do PT ao longo de toda sua história, a capacidade de dizer coisas incômodas, e de propor os "debates chatos", mas imprescindíveis, e que trocamos pelos "lugares-comuns" reverberados pelo mau caratismo midiático e pelas fraudes acadêmicas.

Em Campos dos Goytacazes viramos a cópia-carbono de um anti-garotismo hipócrita, já que todos os segmentos principais de oposição à ele, uns mais outros menos, se beneficiaram das políticas públicas do pessoal da Lapa.

Até o clã dos Bacellar se fortaleceu politicamente na gestão Mocaiber, outra cria menos bem sucedida ("poste") do garotismo, como Sérgio Mendes e outros ressentidos.

Por isso Rafael Diniz naufragou feio, porque foi totalmente incapaz de entender que a suposta rejeição ao garotismo que o elegeu só se tornaria capital político perene se ele apontasse em outra direção.

Mas qual, sendo ele um  político da direita encarnada?

A escolha por temas fiscais e de "gestão" foi um desastre, e sempre será, porque são falsos, sempre falsos, quando a hierarquia de interesses protegidos por sua administração (e tantas outras administrações que reivindicam tais premissas) já mostrava as caras desde o começo.

Por outro lado, repetimos que derrota de Rafael não é só dele.

É do principal grupo de mídia que foi seu principal fiador e mentor, e que agora vai se reorganizar para tentar embarcar em outra aventura, a do filho do ex-Prefeito Arnaldo Vianna.

Dirão que a única novidade é a Professora Natália.

Também não é.

Ela herda o espaço político da esquerda, algo que sempre ficou entre 5 e 10% organicamente, que algumas vezes ultrapassou este limite, e em outras recuou.

Luiza Botelho, Odete Rocha, Luciano D'Ângelo são nomes que autorizam esta conclusão, ou seja, de que sempre houve um portador deste patrimônio eleitoral.

Apesar do desdém da direita, manter este nicho em uma cidade com os traços de Campos do Goytacazes não é pouca coisa.

Para começar a nova caminhada, um passo essencial é a definição de apoios no segundo turno, seja com Wladimir e Caio, seja em outro cenário pós impugnação de Wladimir.

A esquerda campista deve se abster totalmente de participar desta "festa", porque ali nada lhe diz respeito.

Sempre tendo em mente o adágio:

Melhor ser cabeça de mosquito que rabo de elefante.


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