segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Enxugando gelo.

Passadas as eleições municipais, algumas pequenas conclusões, apressadas sim, mas necessárias.

Os processos eleitorais no país, sejam aqueles de repercussão nacional (para escolhas do Congresso, Governadores e Presidente),  sejam os locais, como este que passou, enfrentam uma irreversível rejeição dos eleitores.

Pode-se teorizar um bocado a este respeito, desde o cinismo midiático que ataca a política diariamente para depois conclamar eleitores ao "dever cívico", sabendo que tais ações resultaram em representações cada vez mais distantes dos interesses populares, até as restrições da pandemia, dentre tantos outros motivos.

O fato é que a eleição de ontem apenas confirmou uma tendência, e pior, esta tendência é mundial, ou seja, o desprezo do eleitor.

Em Campos dos Goytacazes o maior contingente de votos foi o não-voto, o que pode indicar (ninguém sabe ao certo) que os eleitores enxergaram as alternativas como iguais, ou incapazes de solucionar os problemas, que de certa forma, suas dinastias políticas legaram a cidade.

O mais grave, no entanto, é que nenhuma alternativa real de poder, e que se confrontasse com estas dinastias, foi construída.

De certa forma, uma análise mais acurada e mais pessimista, revelaria-nos que o processo eleitoral parece se esvair junto com a desestruturação da realidade proporcionada pelo modelo capitalista, que agoniza frente a sua superação pelo modelo que se avizinha, e que dele só temos a intuição que será bem pior que o anterior.

Se as eleições eram a forma política chamada de mais racional dentro da lógica capitalista, mesmo que ela nunca houvesse permitido qualquer governo que ameaçasse as estruturas capitalistas reais de PODER, e quando havia suspeita de tal ameaça, recorriam às rupturas institucionais (golpes), o fato é que com o epílogo capitalista, as relações políticas parecem cada vez mais inoperantes e desnecessárias.

Dos votos apurados ontem, na maior cidade do interior fluminense a partição da cidade foi cristalizada, de um lado a porção mais rica e privilegiada, vocalizando os ressentimentos de sempre ("anti-populistas", e todos os erros conceituais que significam este termo pejorativo), e de outro, os mais pobres, ainda seduzidos pela narrativa simplista e simplória de que haverá políticas "compensatórias" capazes de alçá-los a lugares mais justos na pirâmide social.

Desta contradição, aparentemente irreconciliável, não há caldo de "cultura política" capaz de propor uma alternativa que encontre um mínimo denominador comum, porque na verdade, ele é impossível.

Não se concilia o interesse de um morador da Terra Prometida, no meio de uma vala de esgoto e um barraco de papelão e o morador da Pelinca.

A chamada "via democrática" será sempre incapaz de lidar com este problema, porque o sistema que lhe dá causa (o capitalismo, principalmente este nosso de periferia) tem por natureza a geração desta desigualdade, e não a sua superação.

Para se conciliar algo, é preciso antes dar prioridade a parte de quem mais sofre, e logo, colocar seus interesses acima dos que menos sofrem, e depois, atacar as causas e condições que criam tal sofrimento.

Em resumo: a única chance da "democracia capitalista" é ela ser anticapitalista.

Ou seja: nunca será...

Quando se houve o discurso monocórdio e universal da "austeridade fiscal", que ressoa na boca dos dois então candidatos no segundo turno, tem-se a impressão (ou quase certeza) de que só veremos mais do mesmo.

Na incapacidade ou na covardia de nominar as causas da desigualdade, o discurso do arrocho fiscal agrada a elite e engana os pobres, culpando-os pela própria pobreza, e vendendo a falácia que os sacrifícios fiscais serão sentidos por todos proporcionalmente.

Não serão.

Confirmada a vitória de Wladimir Garotinho nas urnas pelo TSE (o que eu tenho sérias dúvidas), ou convocadas novas eleições, ou nomeado o segundo colocado (Caio Vianna), não há mudança alguma à vista.

Este é o recado de 120 mil eleitores campistas.


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