terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Lá vamos nós de novo.

 Ontem, e desde sempre, eu disse que as perspectivas para a cidade de Campos dos Goytacazes são bem ruins, e o recado do eleitorado, que se absteve em massa da escolha de um dos concorrentes no segundo turno parece refletir o mesmo sentimento.

Eu sou muito afeto a simbolismos.

É fato que há por trás de cada gesto um significado, que de um lado é próprio de quem o pratica, mas assume importância no processo de interpretação daqueles a quem se dirige.

A nomeação da equipe de transição da chapa campeã de votos, porém ainda com situação jurídica pendente, e anunciada pelo prefeito-precário, é um destes gestos que parecem corriqueiros, mas trazem em si uma cadeia de acontecimentos que os antecedem.

Um leitor ou leitora desavisado diria: A nomeação de médicos é um alerta que a saúde será a prioridade do governo.

Pode ser.

Porém, cabe a pergunta, que tipo de "saúde"?

Dentre os nomeados precariamente pelo prefeito-precário estão dois médicos, e um diretor de hospital privado.

Os dois médicos militam, eles também, no setor privado, que no Brasil ganhou o nome de rede contratualizada.

A rede contratualizada deveria ser um mero apêndice, uma rede auxiliar na implementação dos atendimentos do SUS, mas com a pirataria privatista do Estado (lato senso), virou um fim em si.

A exceção virou regra, e quando isto acontece, as regras são sempre para contemplar "exceções" indesejáveis, privilégios e outros interesses menos confessáveis.

Em inúmeros casos, investigações policiais e ministeriais já deram conta de que esta rede concentra vários problemas, e a operação de recursos públicos em tais sistemas privados é, no mínimo, uma temeridade.

Há aqueles que chamam as instituições filantrópicas de "pilantrópicas".

Não é bom generalizar.

Afastemos esta tábula rasa da criminalização policial da gestão pública, e foquemos no absurdo em si que é usar dinheiro público para cevar o setor privado, e pior, para tratar o contribuinte-cidadão igual a cachorro.

Quer dizer, antes fosse igual a cães, pois estes merecem hoje tratamento melhor neste país.

Fica então a dúvida se esta montanha de recursos alocados em redes particulares, além dos subsídios fiscais das deduções de impostos (de renda, das pessoas físicas e jurídicas) que alimentam empresas de saúde, não concorrem diariamente para a destruição do SUS, um dos únicos sistemas de atendimento público e gratuito de saúde do planeta, e se considerarmos o alcance dos atendimentos (qualquer pessoa que esteja no país) e o tamanho da população, é o único do tipo.

É um truque retórico: 

Claro que estes desvios das finalidades dos recursos solapam o SUS, e depois revertem em argumentos para seu desmonte.

Não é errado dizer que as verbas SUS destinadas a tais hospitais servem, principalmente, para ajudar a atender seus clientes particulares, justamente os que podem pagar, que acabam por ser aproveitar dos insumos e bens adquiridos com o dinheiro público.

Assim, quando o prefeito-precário elege como seus principais interlocutores os médicos ligados a este sistema privado de saúde, ele nos diz o tipo de saúde que teremos.

Não é novidade para mim, já que observei que a campanha do prefeito-precário usou como mote justamente as emendas parlamentares liberadas por ele para estas instituições privadas, e nenhuma verba (ou quase nenhuma) para os cofres da Prefeitura, ou para o SUS.

Fica a pergunta, esta de natureza não retórica;

Será que na imensa "experiência" do quase-prefeito-eleito não há nenhum laço ou relação com médicos ou profissionais de saúde ligados a rede pública, funcionários de carreira do setor público, ou ligados às entidades de classe dos trabalhadores do setor, e que sejam pró-SUS?

Ao mesmo tempo, olhando para o papel anunciado para o quase-vice parece que nasce um novo Dick Cheney.

Com uma crucial diferença: Cheney não cometia erros simplórios.

O quase-vice, dublê de usineiro e diretor de hospital, foi aquele que "esqueceu" de largar a diretoria do hospital, sob infantil argumento de que era um momento grave, o da pandemia.

O que nos leva a outras perguntas, e se ele morresse naquela época, o hospital fecharia ou, que gestor é este que não tem delegados ou sucessores?

Então temos duas mensagens do quase-prefeito-eleito:

- A saúde caminha para sua privatização!

- Toda incompetência (do quase-vice) será perdoada, e até recompensada.



PS:

E por falar em emendas parlamentares, instituições de saúde privadas e filantrópicas, eu pergunto:

Onde anda Paulo Feijó?

Que bom ter uma esquerda que briga para que as prisões só aconteçam quando os processos chegarem aos seus termos (finais), não é mesmo?

 

Punitivismo nos olhos dos outros é sempre refresco... 

 


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